domingo, 4 de abril de 2010

A Viagem

      Ontem, ele resolveu beber.
     Estava numa quebrada (periferia) de SP mas, conhecida por ele.
     Tomou dois copos americanos de Dreher, procurou um lugar para urinar atrás do quiosque, e achou 3 rapazes queimando um fumo. Deu 2 pegas sarados, curtidos, e profundos.
     Antes (com 20 e poucos anos), quando ele dava umas bolas, o medo vinha fazer parte do olhar que dava para o mundo. O medo, e a curiosidade de ver 'o outro', se alternam, tornando -se uma coisa só: nova, excitante! 
     Neste estado ele solta o verbo, olhando os personagens que fazem parte, naquele momento, de sua realidade. Não, não fazem parte de 'sua' realidade, o homem é que os coloca na própria realidade construída naquele instante e baseada num lado dele que nem conhece direito.
Nada é dirigido, intelectualmente falando, tudo vem meio direto da psique.
     O grupo, dessa vez, tinha 10 pessoas; dos 15 aos 20 anos. A área está na penumbra. Algumas coisas que ele falava impressionava, outras não; algumas coisas ofendiam, outras não; nesse rolo todo um deles levanta uma hora (o mais velho), e dá um aviso:
     - Vc não pode vir lá dos quintos vir até aqui e falar de 'social'.
Falou outras coisas, mas o homem não prestou atenção entretido que estava no vórtice de sua viagem. Veio o segundo aviso 10 ou 15 minutos depois, nos mesmos termos:
     - Vc vem com tuda sua literatura e conhecimento falar com a gente, quem é vc?
     Não ouve terceiro aviso: o murro o pegou com força, nem se lembra de tê-lo levado. Viu-se sentado no chão, a rapaziada cercava o exaltado em quanto o homem procurava por si sentado no chão tateando em busca de uma das lentes dos óculos que estava no chão, caolho. Dirigiu-se ao seu carro estacionado ali perto.
     A cabeça, a mil!
     Porque faço isso?? Porque faço isso???, pensava ele. A imagem do acontecido (não só da agressão - natural, mas dispensável), teimava em invadir sua mente (obcessivamente), a procura de uma explicação que ele não tinha.
     Chegou na casa em que estava hospedado, mal. Vomitou e tentou dormir...
     Num determinado momento ele achou que devia varrer o acontecimento para debaixo do tapete do esquecer (coisa fácil e burra), e acabou! Mas, a coisa não era por aí: encarou aberta e gradativamente, sem julgar ninguém (nem a ele) e sem procurar 'responsáveis',  se ateve sòmente a um ponto: 'quem' era essa parte dele que o levava a se expor de uma forma tão absurda! E chegou a seguinte conclusão:
     que existe uma parte em nós que desconhecemos, a vemos, sabemos que está lá, a pomos para fora de vez em quando. Essa parte nos 'ferra'. Ela não é consciente só por não estar a tona no dia dia. Sob efeito de alguma substância a pessoa se divide..., atua em risco, não está 'inteira'.
     Na verdade, a conclusão a que ele chegou é mais profunda, pois notou que, loucamente, criou uma realidade sem pé nem cabeça, mas fez isso com pessoas (e com ele), e isso tem seu preço. Talvez ele tenha que deixar a lembrança do acontecimento, livre, viva, do seu lado, e ele a olhará com amor, ouvindo o que ela tem a dizer; assim, se compreenderá melhor. É dessa forma que o que aconteceu poderá fazer parte do seu dia a dia sem que, no futuro, se desconheça.

4 comentários:

  1. Amore
    vim só deixar um beijo
    um queijo
    e parabéns
    e vê se se senta logo!

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  2. Beijo e queijo aceitos.
    Parabéns recolhido no lado direito do peito.
    Quanto ao 'sentar', tá na hora...
    Linda sua foto.

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  3. Obrigada pelos coments em meu blog...seja benvindo e vamos tomar muito café com bolo juntos! Gostei muito de teu blog tb!
    Abraços.

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