domingo, 11 de abril de 2010
Um Cômodo Vazio - (Mulheres!!)
"Vocês ganharam seu próprio espaço na casa até agora possuída exclusivamente por homens. [.] mas esta liberdade é apenas um começo; o cômodo é de vocês, mas ainda está vazio. Ele tem que ser mobiliado; tem que ser decorado; tem que ser repartido. Pela primeira vez vocês são capazes de decidir por si mesmas quais poderiam ser as respostas. Eu poderia ficar e discutir essas questões e respostas de bom grado – mas não esta noite. Meu tempo acabou e devo terminar.”
Era 1931 e Virginia Woolf dirigiu-se com essas palavras para um público de mulheres trabalhadoras. Ela ainda se empenhou por mais dez anos na busca da voz feminina na ficção antes de resolver de fato terminar. Não gosto de pensar que ela desistiu, prefiro acreditar que a literatura lhe prolongou uma vida de muito sofrimento psíquico.
Temos trabalhado nesse desafio que ela nos deixou. Para nós nada é certeza, mais que novos papéis, a liberdade conquistada nos legou a dúvida. Cabem filhos em nosso cômodo? Queremos um amor ou sucessivas paixões? O que mexe com nossa libido? Trabalharemos para viver ou viveremos para trabalhar?
Virginia conviveu com a primeira geração de mulheres numericamente significativas que tinham questões a colocar, mas elas não tinham precedentes. As mães delas sabiam o que seriam: esposa, mãe, solteirona, freira. Já elas precisavam fundar um destino e amadrinharam as gerações seguintes que tentavam preencher esse novo lugar.
A busca da voz é tema recorrente para todos aqueles que escrevem: como preencher um papel, uma tela em branco, que parecem zombar do pobre escritor? Ao referir-se ao vazio do recém-adquirido cômodo, Virginia inseriu a própria condição feminina nesse impasse criativo. Porém, hoje esse problema autoral coloca-se para ambos os sexos, já que a identidade masculina tornou-se inquieta.
Sexos frágeis
Outra matriarca, cuja obra sexagenária, O Segundo Sexo, foi finalmente reeditada em nosso país, tem uma explicação para isso: Simone de Beauvoir acreditava que a mulher fazia-se “Outro” para que o homem pudesse ser “Um”, fazia-se de fundo para que ele pudesse ser a figura. Eram papéis complementares, de tal modo que quando se rompe um lado desse enlace soltam-se os dois.
Não há por que pensar que as mudanças de comportamento provêm somente das mulheres, e que os homens apenas as teriam tolerado. Foi para ambos que o elo dos lugares fixos se dissolveu: houve homens que se apaixonaram por mulheres livres, elas por sua vez abriram mão do abrigo do patriarca. Assim foi o amor de Simone e Sartre, o de William Godwin pela feminista Mary Woolstonecraft, o de Virginia e Leonard. Homens e mulheres saíram do piloto automático, sentem-se frágeis, mas não cessam na busca do tom, de uma voz autêntica, e compartilham uma dúvida interior: o que me torna uma mulher, o que me faz um homem?
Por isso esperamos tanto do amor e do desejo, que parecem confirmar alguma coisa, qualquer coisa. Virginia, Simone e outras tantas nos deixaram essas ideias, com elas pelo menos não ficamos tão órfãs.
(Diana Corso)
Um texto, muito bem vindo nos dias de hoje e, porque não, por muitos dias do amanhã.
Foi postado por Amèlie, no blog Lost In Traslation (porque a palavra é valorosamente conotativa)
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e acho que passamos a vida inteira tentando habitar este cômodo... de vez em quando com isto, outras vezes com aquilo...
ResponderExcluirporque viver é essa tentativa de se ver cheio, pertencendo...
Sylvio...
muito bom vir por aqui...
obrigada pelas delicadezas... comentei lá no dia 7 também...
você é especial...
beijo
Nós também estamos num impasse; na verdade todos estamos procurando um ponto de referência interno e externo.
ResponderExcluirÉ..., estamos no mesmo barco.
Vc também.
bjs.
sylvio,
ResponderExcluirera exatamente o que eu estava pensando:
"Nós também estamos num impasse; na verdade todos estamos procurando um ponto de referência interno e externo.
É..., estamos no mesmo barco."
nem vou me dar ao trabalho de dizer, bastou repetir suas ótimas palavras.
um beijo.
PS: legal o texto!
Oiess!! não li o texto ainda, vou ler, mas não entendi o que houve, o link do seu Blog lá no meu derrepente do nada apareceu que você tivesse deletado teu espaço, até me spantei porque não conseguia mais acessar....estranho né?rs
ResponderExcluirCoisas estranhas acontecem no mundo de Andrea...rts
Que bom que vc apareceu!! gosto muito de ti*
Bjo*
Texto primoroso.
ResponderExcluirAdorei. Virginia Woolf, assim como Silvia Plaft formaram vozes femininas angustiantes e questionadoras da literatura americana.
Mulheres e escritoras admiráveis. Acredito, sim, que a literatura provoca enorme " sofrimento" psíquico. Mexe com o escritor. Encarnar várias vozes. Sofrimentos. Voz feminina. Voz masculina é sofrimento. Já dizia Leve Strauss que " escrever é sofrimento" . E o é.
Amei o artigo. Amei.
Parabéns pela postagem.
Beijão
hmmm! descobri Virginia Woolf recentemente. Sincronicidades. Adorei!
ResponderExcluirRealmente nos obrigada a uma reflexão. Até porque ainda hoje as mulheres recebem menos que os homens, além de outras coisas.
ResponderExcluirMas eu pensei ali, no sexo fráfil: quem é o sexo frágil? A mulher, porque o homem assim chamou; o homem?, que obriga a mulher a ser frágil. Será que homens daquela época não ficavam melancólicos, querendo um carinho????????
Ô Sylvio, alguém mais já falou que tem problemas para entrar no seu blog? Direto tento entrar e vai para a página de erros do blogger.
Um abraço e boa semana.
Hoje mesmo falei sobre isso, lá no Céu : não quero igualdade alguma, não, obrigada. Pra mim, é bom assim, do jeito que é. ;)
ResponderExcluirBeijos, moço.
ℓυηα
Fico contente (orgulhoso), , Betina, por estar minha abeça funcionando em sincronia com outra tão boa como a sua.
ResponderExcluirUm putz texto!
Bjs!
Andrea
ResponderExcluirEsse bogguer anda meio maluco.
Eu também de vc*.
Bjs*
VAleu Celamar!
ResponderExcluirDe verdade!
Abrçs!
Udi
ResponderExcluirDescobrir coisas é sempre muito legal!!!!
Quanto à sincronicidade..., só tenho a elogiar-me! :)
Mina do CAra
ResponderExcluir'Naquela época' (ontem), o que não aparecia à luz, se revelava nas 'sombras': era óbvio que o caminho tava errado.
Se a mulher era menos que nada, os homens eram menos ainda.
Já recebi este tipo de reclamação...
Abração Brother.
vou dar uma olhadinha lá, Luna.
ResponderExcluirBjs
Sylvio, todos estamos em busca. E quando finda uma busca começa outra. É o movimento da vida.
ResponderExcluirPor falar em movimento, meu blog tá se apresentando como aberto apenas pra convidados. Não é verdade, isso é um problema do blogger. Logo que resolver estarei de volta :) Enquanto isso apereço nos blogs amigos.
Um abraço,
Berenice
Berê
ResponderExcluirAhhhhh, o movimento da vida...!!!!
Sublime!!!!
Seu blog continua com problemas.